Em meio a um ambiente desafiador, fundos de pensão, seguradoras e grandes investidores institucionais revisitam suas alocações em ações, buscando alternativas que ofereçam estabilidade e rendimento.
O primeiro passo para entender a racionalidade por trás das decisões institucionais é analisar o ambiente de incertezas macroeconômicas que predomina tanto no Brasil quanto no mercado global. A persistência de juros elevados em várias economias, o patamar da inflação acima das metas e o desempenho negativo dos principais índices acionários intensificaram a cautela dos gestores.
No Brasil, a taxa Selic encerrou 2024 em 12,25% e as projeções indicam possibilidade de atingir 15% em 2025. Esse quadro fortalece a atratividade de títulos públicos e outros instrumentos de renda fixa, em detrimento das ações, cujo índice Ibovespa registrou queda de 4,44% em 2024.
O movimento de saída ou redução de posições em renda variável por investidores institucionais foi significativo em 2024 e segue em 2025. Fundos de pensão, endowments e seguradoras optaram por retirar capital ou realocar recursos para setores mais estáveis.
Essas decisões não se limitaram ao Brasil. Globalmente, houve crescimento na preferência por crédito privado e dívida alternativa, em função da segurança relativa que esses instrumentos oferecem frente à volatilidade associada à renda variável.
A Pesquisa Global de Insights do Investidor Schroders 2025, que envolveu 995 instituições em várias regiões do mundo, revelou as seguintes alocações:
Os números confirmam a coexistência de estratégias: mesmo que as ações permaneçam relevantes, há uma realocação crescente para ferramentas de renda fixa e ativos de crédito.
Vários fatores impulsionaram essa revisão de portfólio:
A combinação desses elementos criou um ambiente onde a previsibilidade de fluxos de caixa e a transparência na governança passaram a valer mais do que a busca por valorização de curto prazo.
Para enfrentar a instabilidade e proteger o capital, as instituições têm adotado algumas táticas:
Essas abordagens ajudam a equilibrar retorno e segurança, mantendo exposição à renda variável apenas em empresas consideradas robustas e com governança sólida.
O governo brasileiro e órgãos reguladores têm buscado reduzir a burocracia e os custos de transação para estimular a participação. A Receita Federal lançou em 2025 a Calculadora de Renda Variável (ReVar), que automatiza a apuração de ganhos, diminui erros e torna o processo de declaração mais ágil.
Além disso, avanços em plataformas digitais e fintechs permitem maior agilidade na custódia, execução de ordens e monitoramento de riscos em tempo real, beneficiando investidores de todos os portes.
A revisão da MSCI em 2025 destacou a importância de estruturas transparentes e classificações de risco adequadas para o engajamento institucional. Mercados emergentes como o brasileiro ainda precisam aprimorar governança e liquidez para atrair fluxo novo de capitais.
Entretanto, a tendência global aponta para:
O movimento de reavaliação das posições em renda variável pelos investidores institucionais reflete uma adaptação inteligente a um cenário de juros altos e alta volatilidade. A alocação que privilegia resiliência, governança e diversificação pode não só proteger o capital investido, mas também oferecer oportunidades de retorno consistente em longo prazo.
Para gestores e players de mercado, o desafio é continuar inovando em produtos, melhorar a transparência e criar ambientes que permitam decisões informadas. A combinação entre tecnologia, regulação eficiente e disciplina de portfólio poderá redefinir o papel da renda variável dentro de carteiras institucionais, tornando-a novamente atrativa quando as condições forem mais favoráveis.
Referências